quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Alfenim



Aqui transcrevo um trabalho de J.H. Pires Martins. publicado no Diário Insular de 16 de Junho de 2007, sobre este doce tradicional que se faz muito na ilha Terceira especialmente por ocasião das festas do Espírito Santo:
" Alfenim, o sabor árabe no ritual cristão...
No Séc.VIII, os árabes invadem e ocupam a Península Ibérica e terá sido nessa altura que introduziram esta gulodice confeccionada com açúcar ou melaço de cana, designada por ( al-fenid) ou (al-fanid) significando a palavra branco e derivando  em (alfenim) na língua portuguesa e que era um doce muito popular no sul de Portugal.
O culto do Espírito Santo tem um grande incremento a partir do Séc.XII-XIII aquando do Milagre das Rosas da Rainha Santa Isabel e a coroação dos pobres na vila de Alenquer, iniciando-se assim a devoção ao Divini Espírito Santo- Terceira Pessoa da Santíssima Trindade-Simbolizado pela pomba branca.
Em 1465 algumas famílias do Algarve vêm povoar a parte oeste da ilha Terceira, ou ilha de Jesus Cristo e, possivelmente, poderão ter introduzido esta arte de trabalhar o açúcar e transformá-lo em alfenim.
Mais tarde, o alfenim ou al-fenid devido à sua brancura, que é subentendida como pureza e purificação, foi introduzido e assimilado no culto religioso cristão.
Desde então, o doce foi transformado em peças de arte gastronómica tais como a pomba branca representando o Espírito Santo, e todos os outros símbolos utilizados no ritual de celebração dessa festa ou dos santos padroeiros como a coroa, a rosquilha de pão. os animais e outros motivos decorativos que eram doados à irmandade do Espírito Santo ou outras e mais tarde. leiloados,revertendo a venda para a organização da festa.
No caso de graça obtida, a pessoa encomenda à doceira que confeccione uma peça com a simbologia ou outras formas em alfenim,indicando o peso da peça que pretende, a parte do corpo que beneficiou de uma graça do Divino Espírito Santo, Um braço, uma perna, um pé etc."

domingo, 5 de setembro de 2010

Doce de uva




Esta é a imagem de uma latada em ano de vacas gordas que é como quem diz de muitas uvas. Este ano foi muita parra e pouca uva, nem dá para fazer vinho, diz-se que a produção vitivinícola, na Terceira, este ano, devido às condições climatéricas, desceu para metade e que no Pico e Graciosa a produção ainda foi mais agravada. Contudo, sempre se apanhou alguma coisa para fazer doce.
É uma trabalheira, mas no fim gosto de ter doces de várias qualidades em casa, de mandar ao meu filho e de oferecer.
Primeiro tiro os bagos bons e passo-os por várias águas.
Depois separo as cascas a uma porção de bagos e reservo.
A seguir ponho as uvas no tacho cobertas de água e ferve, passo no "passe-vite" e junto as cascas que havia reservado, como podes ver:


Depois, é só ferver, mexendo sempre até fazer o ponto que é o que estou fazendo agora, só dei um saltinho até ao computador, para te contar isto e vou já para o fogão, para não acontecer alguma desgraça!!!
Depois conto-te o resto...
Passado algum tempo, cá está o meu doce de uva à espera de umas torradinhas e de um cházinho.
O do laçarote é um miminho para a minha cunhada.
Não indico a porção de açúcar por duas razões: Primeiro porque não sou mulher de cozinhar muito com receitas, segundo porque acho que o açúcar que se indica é um exagero, roubando no peso do açúcar fica bom na mesma, leva é mais tempo a formar o ponto.
Um beijinho docinho como o meu doce!

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Socas, massarocas ou espigas de milho.


Ontem, ao abrir a porta, encontrei uma saca com massarocas de milho. Mão amiga, sabendo que gostamos muito delas, deixou-as como que um cartão de visita testemunhando amizade que se revela de um modo tão simpático e  peculiar .
Lembrei-me então que por esta altura, o quintal da minha casa das Lajes costumava estar repleto de montes de massarocas à volta dos quais nos sentávamos, com  vizinhos e amigos que nos vinham ajudar, para se fazer a desfolhada. Tiravam-se as folhas velhas e deixavam-se algumas para  o meu pai as prender em "cambulhos" e depois os pendurar na burra do milho a secar.

Bateu-me fundo uma certa saudade e pensei que todas as famílias, por mais humildes que sejam, possuem a sua própria história, o seu passado, e a minha família não foge à regra. Quanto a mim a lembrança desse passado fascina-me com a sensação profunda de um romance duradouro, como se fosse o passado ou as tradições de uma família real.
 Bem, mas o que quero é dar-te conta das massarocas que me foram ofertadas:
Primeiro tirei-lhes as folhas e limpei-as dos cabelos de milho e dos grãos estragados,



Depois fiz vários sacos para congelar, aproveitando já, para cozer algumas em água e sal.
Depois de cozidas, há quem as asse na brasa, mas nós gostamos assim mesmo, com um pouco de manteiga,
Agora é só comer à dentada, às vezes eu corto-as ao meio antes de cozer mas desta vez foi assim mesmo!
Claro que é uma coisa mais rústica, não se serve numa refeição de cerimónia, mas eu tenho este pequeno servicinho próprio, com umas massaroquinhas que servem para pegar na massaroca, quando está muito quente e o utensílio para, quem gostar, distribuir a manteiga sobre elas.

Um pouco de saber...
O milho é  um cereal cultivado em grande parte do mundo. É utilizado na alimentação humana ou como ração para animais, devido às suas qualidades nutricionais e aos aminoácidos que o integram.
Pensa-se que este cereal é originário da América, existindo várias espécies do mesmo.